Monday, August 2, 2010

O Pai da Branca de Neve


O Pai da Branca de Neve


Autor: Belén Gopegui


Edição: Minotauro


Sinopse:
«A protagonista espera em casa que o estafeta do supermercado lhe traga as compras. O estafeta atrasa-se e ela tem de sair. Quando volta descobre que lhe deixaram as compras em casa de uns vizinhos e que os produtos congelados se tinham estragado. Telefona para o supermercado para reclamar. No dia seguinte, tocam-lhe à campainha e ao abrir a porta dá de caras com o estafeta do supermercado. O homem diz-lhe que por causa do seu telefonema o despediram. A professora lamenta o incidente, mas o homem insiste: ela é a responsável, deve encontrar-lhe outro emprego.
A partir deste episódio, Belén Gopegui, uma das mais importantes escritoras da nova geração de romancistas espanhóis, tece uma narrativa que nos leva pelo mundo incerto dos limites invisíveis que unem e separam o privado do espaço público. »

Já andava de olho na edição castelhana, e foi com agrado que vi este título ser publicado em Portugal, e nem sequer o deixei passar pela estante: foi logo parar à mesa-de-cabeceira. A tradução de Miguel Serras Pereira e o esmero colocado na produção da colecção, em particular o design (a colecção já ganhou dois prémios internacionais de design) fizeram-me fechar os olhos ao PVP: 20 €. Após ter lido as primeiras 10 páginas, esqueci-me do preço - valera a pena.
A mensagem que este livro passa é que, tal como o pai da Branca de Neve que assistiu sem intervir às maldades perpetradas contra a sua filha, também nós assistimos ao que se passa na sociedade sem nada fazermos. Sabemos que as coisas estão mal, mas não só nada fazemos para as alterar, como somos cúmplices silenciosos ao permitir a continuação do statu quo.
Trata-se de uma obra excelente, que nos faz reflectir no nosso papel enquanto indivíduos e enquanto parte de um todo.
Nota final: 17/20

Thursday, July 8, 2010

O Peso do Silêncio (The Weight of Silence)




Título: The Weight of Silence
Autor: Heather Gudenkauf
Edição: Mira Books








Este livro passou pela mesa-de-cabeceira há uns meses, e deixou-me completamente KO. É daquelas obras que deixam uma marca indelével.
À partida poderia tratar-se de mais um thriller igual a tantos outros, sobre crianças desaparecidas. Mas aviso desde já que não.
Callie é uma criança meiga e sensível que sofre de mutismo selectivo desde muito pequena. Petra é a sua melhor amiga e voz, já que somente ela parece compreender o que Callie diz no meio do seu silêncio.
Numa manhã quente, ambas as famílias acordam e descobrem que as meninas desapareceram. E enquanto procuram as crianças numa corrida contra o tempo, juntamente com amigos e a polícia, percebe-se que o segredo para as encontrar reside no silêncio que oculta verdades esmagadoras e no peso que ele tem.
É este o ponto de partida para um livro soberbo, de uma autora até então desconhecida. Li-o em cerca de três horas, sem parar um bocadinho - aliás, a alternância de narradores confere à narrativa um ritmo alucinante do princípio ao fim, para além da densidade das personagens, a escrita brilhante e aqueles segredos ocultos que pairam sobre a história como uma nuvem esmagadora, um peso que sufoca e angustia. O silêncio pesa sobre todas as personagens como um coro de uma tragédia grega, sendo ele próprio quase uma personagem autónoma do livro, uma presença constante e, sobretudo, omnisciente. E só quando as palavras ocultas e sufocadas por todos os que rodeiam as meninas são desvendadas é que será possível encontrar Callie e Petra.

Quando este livro, ou melhor, esta obra-prima em ambos os sentidos, passou pela minha mesa-de-cabeceira, ainda não estava disponível em português. A partir de 15 de Julho estará, pelas mãos da Porto Editora, com o título «Por trás do silêncio». Porém, aqui preferi referir a edição americana que foi, de facto, a que li.
Nota: 18,5 / 20

Wednesday, June 23, 2010

As Raparigas do Rosário



As Raparigas do Rosário

Autor: Richard Montanari

Edição: Editorial Presença


Sinopse (retirada da contracapa do livro)
«Na cidade de Filadélfia não há memória de uma série de crimes tão violentos e brutais como os que os detectives Kevin Byrne e Jessica Balzano têm em mãos. O alvo são raparigas de colégios católicos, que aparecem mortas em circunstâncias simbólicas evidenciado sinais de tortura e mutilação. O assassino tem um percurso ritual metodicamente preparado para a dupla de detectives, e é imperativo detê-lo antes que ele complete o ciclo. Mas aproxima-se o dia da Ressurreição e, quando ambos percebem quem é a próxima na lista e porquê, pode já ser demasiado tarde. Um thriller cativante, bestseller em mais de uma dezena de países. »
Este já andava há algum tempo para passar pela mesa-de-cabeceira, já que foi publicado em Portugal em 2007. Trata-se de um thriller muito bem conseguido, embora recorrendo ao cliché da dupla de detectives, ele terrivelmente prejudicado por um problema do passado e ela bela e perigosa mas algo experiente. O ritmo da narrativa é electrizante e o livro é de tal forma repleto de acção que, por vezes, mais parece que se está a ver um filme do que a ler.
O que me desagradou na obra foi umas quantas gralhas incómodas, e alguns detalhes de tradução que poderiam ter sido resolvidos de outra forma. No entanto, nada de grande monta.
Nota: 15

Thursday, April 29, 2010

Colecção Borboletras

Desde sempre a Caminho habituou-nos a livros infantis e juvenis de excelente qualidade, e a colecção «Borboletras» não é excepção - com a vantagem acrescida do preço acessível (5,90€ por volume).
Com a adaptação e concepção gráfica a cargo da LupaDesign, inclui títulos absolutamente deliciosos como:



«Não consegues dormir, Urso Pequeno?», de Martin Wadell








«O Pato Camponês», igualmente de Martin Wadell

«O Sr. Azulão», de Chris Riddell


«Viva o Peixinho», de Lucy Cousins



«Biscoito de Cão», de Helen Cooper (atenção, este inclui uma receita para preparar autênticos biscoitos para deliciar os caninos - os cães, não os dentes!)




«Cão Rafeiro», de Stephen Michael King


Estes são alguns dos títulos que já me deixaram agarrada e que provocaram muitas gargalhadas e emoções fortes lá em casa.


Veredicto: Altamente recomendáveis





Tuesday, April 13, 2010

Imperial Bedrooms



Este ainda não passou pela mesa-de-cabeceira mas, mal esteja disponível para venda, vai direitinho para lá sem passar pela casa de partida.
É verdade: Imperial Bedrooms está quase a chegar. Quase cinco anos depois de Lunar Park, o «cabecilha» do Brat Pack literário regressa às lides, e parece que em grande - o Clay de Menos que Zero está de volta, vinte e cinco anos depois. Argumentista de sucesso, Clay regressa a Los Angeles para passar o Natal, à semelhança do que sucede em Menos que Zero. De volta estão também as restantes personagens: Blair, a ex de Clay, que entretanto casou com Trent, Julian, que dirige um serviço de acompanhantes, e até Rip, o dealer, que já fez tantas plásticas que ficou irreconhecível. Pelo meio, e uma vez mais, teremos os aspirantes a estrelas, beldades, muitas drogas, promiscuidade q.b. e a ausência quase total de escrúpulos daqueles que habitam o lado negro das luzes da ribalta.
A ler vamos...

Thursday, April 1, 2010

Millenium, de Stieg Larsson




Já se disse tanto sobre estes livros, que qualquer coisa que possa dizer será edundante. O diabo é que estes 3 volumes sabem a pouco - infelizmente, o génio criador da Lisbeth Salander morreu de repente após ter entregue os manuscritos ao editor.

Hesitei antes de os ler em português, sobretudo depois de ter visto a ficha técnica. Mas lá me acabei por aceder e verifiquei que os meus preconceitos iniciais batiam certo. A história, em si, é extraordinária, e a construção das personagens, particularmente a Lisbeth, é brilhante.


Geralmente tenho uma certa predilecção pelas personagens incompreendidas, mas a Lisbeth bate aos pontos qualquer personagem alguma vez criada. Esta rapariga é uma trinca-espinhas, antissocial, que passou metade da vida institucionalizada, com tendência para comportamentos violentos, uma hacker extraordinariamente dotada, de uma inteligência fora de série, bissexual e com características físicas que dificilmente encaixariam em qualquer cânone de beleza, e a combinação de tudo isto faz com que se torne fascinante. Lisbeth é de tal forma poderosa que abafa qualquer outra personagem do livro, até mesmo o Mikael Blomkvist.
Não vou escrever sinopses de nenhum dos três livros - não vale a pena. Estes livros passaram muito recentemente pela mesa-de-cabeceira, todos seguidinhos, e o que tenho a dizer sobre eles é aquilo que já muitos disseram: a tradução deixa imenso a desejar. Houve quem dissesse que era «de fugir», mas não irei tão longe. Isto porque, uma vez que os livros foram traduzidos do inglês e não do original sueco, e dado que não sei sueco, não posso pronunciar-me sobre isso. Porém, houve alguns pormenores que me incomodaram: o uso do verbo «haver» como auxiliar em vez de «ter»; o abuso de advérbios de modo, em particular daqueles que nem sequer vêm no dicionário, como «fodidamente», e a ausência de notas de rodapé. É certo que as notas quebram a leitura e devem ser usadas o mínimo possível, mas havia certos casos em que considero que seria conveniente alguma explicação, ainda que breve, sobretudo tendo em conta que a história se passa na Suécia, um país algo desconhecido para os portugueses. Não quero dizer com isto que devessem explicar em nota o que aconteceu ao Olof Palme ou quem foi a Anna Lindh, mas houve uma ou outra situação que merecia ter sido explicada ao leitor menos informado. A somar a isto, há ainda a revisão. É certo e sabido que não há livros sem gralhas, e ainda para mais livros com tantas páginas como estes. O último volume está particularmente mauzinho, com «passawords» a aparecer várias vezes, frases com a pontuação final trocada, entre outras coisas.
No entanto, a história é de tal maneira boa que não há nada, nem sequer uma tradução ou revisão descuidadas, que a estraguem.
Nota final (comum aos três): 16,5/20 (os problemas de tradução e revisão não foram considerados)