Thursday, April 28, 2011

I Was Behind You



Título: I Was Behind You
Autor: Nicolas Fargues
Edição: Pushkin Press
(tradução de Sue Rose a partir do original francês, J'était derriere toi, P.O.L., 2006)




Ero dietro di te. (Estava atrás de ti.) É assim que começa este «roman-memoir», segundo as palavras do autor.


Enquanto janta num restaurante de Florença com o pai e a madrasta, o empregado entrega-lhe um cartão com a frase escrita, e por baixo um número de telefone italiano. Na altura não o sabe, mas é aquele número que lhe irá provavelmente salvar a vida.


Mergulhado numa depressão profunda, incapaz de lidar com a culpa que o devora, preso a uma relação doentia e violenta, o narrador procura uma solução para o seu casamento de vários anos à beira da ruptura devido às traições mútuas. Procura, acima de tudo, voltar a erguer-se após anos de auto-anulação em nome de um amor que possivelmente nem existiu de todo. E é nesse momento que Alice surge na sua vida. Alice, uma jovem delicada e sensível, o perfeito oposto da violenta e possessiva Alexandrine, a mulher que ama, mãe dos seus dois filhos, mas que o anula fazendo-o perder o controlo sobre si mesmo.


Porém, após esse encontro doce e fugaz, que é uma autêntica injecção de vida, volta a ser dominado pela culpa e o inferno recomeça, ainda mais brutal do que antes. No limite, sabe que tem de tomar a decisão que causará menos estragos, optar pelo mal menor - o que dói mais, perder Alice ou permanecer ao lado de Alexandrine? Recomeçar do zero com Alexandrine ou vê-la desintegrar-se por a abandonar para ficar com Alice? Ficar agarrado ao pesadelo por causa das memórias de felicidade? Sim, porque a felicidade não passa de uma memória - quando somos felizes não nos apercebemos dela...




Mais do que um romance-memória, esta obra é uma autoconfissão honesta das fragilidades e vulnerabilidades, um exercício duro e sensível de auto-análise, belo e, acima de tudo, de uma sinceridade surpreendente e tocante.


Tuesday, February 15, 2011

E o Burro Viu o Anjo

Interrompemos a presente emissão para anunciar que «E o Burro Viu o Anjo» de Nick Cave vai ser reeditado pela Alfaguara, uma chancela da Objectiva.
A anterior edição, pela Estampa, já passou há muito tempo pela mesa-de-cabeceira, mas agora vai passar outra vez.
Uma excelente notícia :-)
A ler vamos.

Monday, January 24, 2011

Jardins de Kensington





Título: Jardins de Kensington
Autor: Rodrigo Fresán
Edição: Cavalo de Ferro

Sinopse:
«Ao longo de uma longa e delirante noite, Peter Hook, famoso autor de livros infantis, narra a história da sua vida, marcada pelos pais – um cantor de rock e uma mãe aristocrata e hippie – e por uma insólita infância passada na psicadélica Londres dos anos 60, entre personagens como Bob Dylan, John Lennon e Kubrick. Uma Londres de sonho que cedo se transforma num pesadelo, com a morte prematura do seu irmão mais novo e dos pais. A partir desse momento, Hook refugia-se no mundo mágico de Peter Pan e desenvolve uma obsessão pelo seu criador, o escritor J. M. Barrie, confundindo a sua própria biografia com a deste, numa narrativa de sonho, literatura, rock, e pelo meio o personagem Peter Pan, de quem Hook diz conhecer a verdadeira história.»
A primeira coisa a dizer sobre Jardins de Kensington é que deveria haver um decreto-lei que tornasse obrigatória a leitura deste livro. Com um ritmo narrativo alucinante, Fresán é um verdadeiro mestre da palavra, criando imagens e passagens de rara beleza. É notória - e também notável - a exaustiva pesquisa elaborada por este argentino para criar esta obra magnífica. Cada página deste livro é como um requintado doce de colher que deve ser consumido lentamente, deixando as palavras derreterem devagarinho na boca para prolongar ao máximo o prazer.
Sendo a única obra de Fresán publicada em Portugal (até ao momento), Jardins de Kensington é um romance raro, daquele género de livro tão extraordinário que só surge uma vez em cada cem anos e é, seguramente, um dos melhores livros que li em toda a minha vida e, porque não, um dos melhores alguma vez escritos e que ainda não passaram pela mesa-de-cabeceira.
Numa escala de 0 a 20, este merece sem dúvida alguma um 21.

Wednesday, January 19, 2011

Deus Não Gosta de Nós





Título: Deus Não Gosta de Nós

Autor: Hank Moody

Edição: Marcador


O livro escrito por Hank Moody e que lhe garantiu o estatuto de one-hit-wonder na literatura chega agora a Portugal e já passou pela mesa-de-cabeceira. Até aqui nada de estranho, não fosse Hank ser uma personagem da brilhante série Californication e não um escritor de carne e osso propriamente dito. Mas isso não vem ao caso.

Aqui, o narrador descreve a sua trajectória depois de largar a faculdade e de se tornar acidentamente traficante de droga, mudando-se para o mítico Chelsea Hotel. Pelo meio deparamo-nos com uma ex-namorada tresloucada, um junkie espertalhão de Wall Street e um aspirante a estrela de rock com uma namorada irresistível.

Divertido, mordaz e negro, «Deus Não Gosta de Nós» é, ainda assim, optimista. A comparação com «Menos Que Zero», de Bret Easton Ellis, acaba por ser inevitável.

Apesar de - infelizmente - o título não ter sido traduzido à letra, a tradução em si está irreprensível e o resultado final é bastante satisfatório.

Uma excelente estreia, tanto para o «autor» como para a editora.


PS. Seria bom que a moda pegasse, pois gostaria muito de um dia ler um livro «escrito» pelo Alan Shore.