Já se disse tanto sobre estes livros, que qualquer coisa que possa dizer será edundante. O diabo é que estes 3 volumes sabem a pouco - infelizmente, o génio criador da Lisbeth Salander morreu de repente após ter entregue os manuscritos ao editor.
Hesitei antes de os ler em português, sobretudo depois de ter visto a ficha técnica. Mas lá me acabei por aceder e verifiquei que os meus preconceitos iniciais batiam certo. A história, em si, é extraordinária, e a construção das personagens, particularmente a Lisbeth, é brilhante.
Geralmente tenho uma certa predilecção pelas personagens incompreendidas, mas a Lisbeth bate aos pontos qualquer personagem alguma vez criada. Esta rapariga é uma trinca-espinhas, antissocial, que passou metade da vida institucionalizada, com tendência para comportamentos violentos, uma hacker extraordinariamente dotada, de uma inteligência fora de série, bissexual e com características físicas que dificilmente encaixariam em qualquer cânone de beleza, e a combinação de tudo isto faz com que se torne fascinante. Lisbeth é de tal forma poderosa que abafa qualquer outra personagem do livro, até mesmo o Mikael Blomkvist.
Não vou escrever sinopses de nenhum dos três livros - não vale a pena. Estes livros passaram muito recentemente pela mesa-de-cabeceira, todos seguidinhos, e o que tenho a dizer sobre eles é aquilo que já muitos disseram: a tradução deixa imenso a desejar. Houve quem dissesse que era «de fugir», mas não irei tão longe. Isto porque, uma vez que os livros foram traduzidos do inglês e não do original sueco, e dado que não sei sueco, não posso pronunciar-me sobre isso. Porém, houve alguns pormenores que me incomodaram: o uso do verbo «haver» como auxiliar em vez de «ter»; o abuso de advérbios de modo, em particular daqueles que nem sequer vêm no dicionário, como «fodidamente», e a ausência de notas de rodapé. É certo que as notas quebram a leitura e devem ser usadas o mínimo possível, mas havia certos casos em que considero que seria conveniente alguma explicação, ainda que breve, sobretudo tendo em conta que a história se passa na Suécia, um país algo desconhecido para os portugueses. Não quero dizer com isto que devessem explicar em nota o que aconteceu ao Olof Palme ou quem foi a Anna Lindh, mas houve uma ou outra situação que merecia ter sido explicada ao leitor menos informado. A somar a isto, há ainda a revisão. É certo e sabido que não há livros sem gralhas, e ainda para mais livros com tantas páginas como estes. O último volume está particularmente mauzinho, com «passawords» a aparecer várias vezes, frases com a pontuação final trocada, entre outras coisas.
No entanto, a história é de tal maneira boa que não há nada, nem sequer uma tradução ou revisão descuidadas, que a estraguem.
Nota final (comum aos três): 16,5/20 (os problemas de tradução e revisão não foram considerados)